Que tal isso: Aprender a ter um encontro pessoal com Jesus, entendendo
os sacramentos da igreja e o verdadeiro amor para com o próximo, você sentirá
amado (a).
Pois eu quero fazer de você a pessoa mais amada de todos os tempos. (Amar como
Jesus amou!)
RESUMO UMA LUZ DA FÉ
Nasceu José em berço católico,
nutrindo-se dos valores humanos e da fé em Deus desde a infância. A felicidade
parecia ser sua eterna companheira ao lado do verdadeiro amor e dos dois filhos
que alegravam seus dias. No entanto, o destino reserva-lhe um giro inesperado
quando, abruptamente, sua vida é transformada ao ser sequestrado e encarcerado
em um cativeiro mergulhado em sombras.
Na clausura angustiante, José cruza caminhos com uma pequena garota de oito anos, vítima dos tormentos que assolam a morada do sequestrador. Uma amizade floresce entre eles, reacendendo em José os ensinamentos profundos sobre fé, religião e amor que marcaram sua jornada.
Num gesto de compaixão, José compartilha com a garotinha e o sequestrador os princípios do perdão e do amor divino. Contudo, quando tudo parece convergir para um desfecho transcendental, um mistério se desenha, alterando irrevogavelmente o destino desses três protagonistas.
Uma narrativa envolvente emerge, entrelaçando o propósito religioso de um homem em missão, a busca pela fé de uma inocente garotinha e a necessidade de amor e perdão de um cativo em desespero. "Uma Luz Da Fé" conduzirá o leitor por uma jornada de emoções intensas, explorando os intricados laços entre amor, família, religião e perdão. Prepare-se para ser surpreendido por uma verdadeira epopeia espiritual, onde a luz da fé guia cada passo, tocando profundamente seus sentimentos. Uma experiência literária que transcende, cativa e revela a genuína batalha na caminhada da fé.
CAP. 1.
PESCADORES DE HOMENS
14 Depois que João foi preso, Jesus
veio para a Galiléia, proclamando a Boa Nova de Deus: 15 “Completou-se o tempo,
e o Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede na Boa Nova”.
16 Caminhando à beira do mar da
Galiléia, Jesus viu Simão e o irmão deste, André, lançando as redes ao mar,
pois eram pescadores. 17 Então disse-lhes: “Segui-me, e eu farei de vós
pescadores de homens”.
18 E eles, imediatamente, deixaram
as redes e o seguiram.19 Prosseguindo um pouco adiante, viu também Tiago, filho
de Zebedeu, e seu irmão João, consertando as redes no barco.
20 Imediatamente, Jesus os chamou. E
eles, deixando o pai Zebedeu no barco com os empregados, puseram-se a seguir
Jesus.”
(Marcos 1, 14-20)
Acordei cedo como de costume naquela manhã de
domingo de janeiro, tentei não fazer muito barulho para não acordar as crianças
e minha esposa, tomei um banho para refrescar do calor que fizera à noite,
estávamos em pleno verão e a temperatura parecia se elevar a cada ano.
Fiz minhas orações e meditações matinais agradecendo a Deus por mais um dia e fui para cozinha preparar o café da manhã. Com a água já fervendo na chaleira e o coador de pano junto ao bule, eu já estava pronto para fazer o café, o pão com a manteiga, as frutas separadas, maçã, pera, banana, a mesa toda preparada para receber as crianças. Bianca ao sentir o aroma de café pela casa inteira, sabia que era hora de se levantar. Sempre aparecia na cozinha e me desejava um bom dia, e é claro aproveitava para pegar sua xícara de café que eu já deixava preparado. Sonolenta e preguiçosa pelas manhãs, ela era a minha metade, os seus olhos verdes sempre me iluminavam, o seu sorriso sempre me alegrava, conhecíamos um ao outro muito bem, gratidão a Deus por ela, sempre estamos juntos.
_Bom dia José!
_Bom dia Bianca!
Com seu jeito todo doce que só ela sabe fazer, Bianca se aproxima de mim e me dá um beijo caloroso, pega a sua xícara e após experimentar o café faz o elogio matinal.
_O café está delicioso, esse aroma! Ah como é bom, e não se preocupe já estou indo acordar as crianças.
_Por favor, você sabe que gosto de chegar cedo na Igreja – alertei-a fixando o olhar nela.
_Sei, sei, te conheço – saindo da cozinha e indo para o quarto das crianças.
E realmente ela me conhecia, sabia dos meus costumes, com apenas um olhar já nos entendíamos, estamos sempre em sintonia, afinal estamos casados há mais de 10 anos, isso sem contar a época de namoro e noivado, uma vida sempre juntos, agradecia a Deus sempre por tê-la colocado em meu caminho.
Temos um casal de filhos: Francisco e Clara. Francisco é o nosso filho mais velho, tem 7 anos, puxara mais à mãe na personalidade, porém seus olhos e cabelos castanhos claros como mel foi herdado de mim, franzino e atleta se destaca também pela sua obediência.
Francisco não gosta de levantar cedo, é o mais preguiçoso da casa, mas sempre nos obedecia, ciente de suas obrigações e sério para resolver as coisas, sempre focado nos assuntos, limitava nessas horas a obedecer sua mãe, era o melhor a fazer, pois não queria que eu fosse chamar sua atenção, uma palavra apenas e ele já se levanta para fazer suas obrigações, não tenho do que reclamar dele, muito carinhoso e amigo.
Francisco está sempre querendo aprender coisas novas e apesar do aroma do café pela casa toda ele prefere tomar pela manhã um leite com achocolatado, nisso puxou ao seu avô, meu pai, que além do café não dispensa um leite com achocolatado, que também é de bom gosto para mim devo confessar.
Clara, nossa filha tem 5 anos de idade, confesso que ela tem uma disponibilidade igual ao do pai, gosta de levantar cedo e agita a casa toda em meio as perguntas e curiosidades, herdou os olhos verdes e os cabelos louros de sua mãe e sempre tem um sorriso estampado em seu rosto, com muita energia, quando ela levanta da cama corre para a cozinha para me dar um bom dia e um beijo, toda desarrumada é claro, Bianca sempre precisa mostrar aquele olhar que até eu fico com medo, e só após esse momento, então Clara corre para o quarto para terminar de se arrumar.
Aos domingos tomávamos um café da manhã mais rápido, pois íamos para a Igreja Bom Jesus cedo, meus pais sempre ficam nos esperando em frente ao portão para irmos juntos, moramos na casa ao lado e isso é bom para estarmos sempre juntos em família.
De carro até a igreja leva apenas 5 minutos, se fossemos a pé levaríamos uns 15 minutos, mas como saímos muito cedo aos domingos, prefiro ir de carro para levar as crianças e meus pais juntos e em segurança.
Em frente à igreja há uma bela praça com árvores e flores de vários tipos e formas, passarinhos cantando e brincando por entre as folhas e não posso esquecer de uma bela fonte de água muito relaxante, sua forma arredondada, branca, sempre um bom lugar para fazer as leituras da bíblia e meditar, relaxar com o som da água e para passar algum tempo com os amigos conversando, há também um pequeno estacionamento para os carros nesta praça, mas prefiro parar o carro na vaga que tenho em nossa loja de artigos religiosos católicos que é do outro lado da rua, praticamente em frente da igreja.
Ao entrarmos na Igreja os cumprimentos aos amigos, padre Carlos já na porta de entrada também acolhe as pessoas que chegam, conhecíamos muitos paroquianos, pessoas do bem, sempre unidas, todos nos recebiam com abraços calorosos e com muita alegria. Deixava sempre meus filhos aos cuidados de meus pais principalmente quando estávamos na escala como ministros Extraordinários da Eucaristia, pois Bianca e eu havíamos sido instituídos alguns anos atrás e sempre a serviço da paróquia e da diocese.
_ Que calor fez essa noite não é padre? - perguntei sabendo a resposta.
_ Muito meu irmão, mas não temos que reclamar e sim dar graças a Deus – me corrigiu o padre – e não se esqueçam depois da missa preciso falar com vocês dois – apontando para Bianca e para mim.
_Sim senhor! – respondi.
Ao chegar na sacristia sempre faço uma oração pedindo proteção e sabedoria para exercer minha função do dia e após essa conversa com Deus, começo a preparar para montar a credência. Com tudo já organizado, pontualmente as sete horas, o padre Carlos dá início a celebração, ele é bem rigoroso com os horários, gosta de ser pontual em suas celebrações e compromissos.
Na procissão de entrada, o canto litúrgico entoa o início da celebração, como em Hebreus capítulo treze, versículo quatorze que diz: “Porque não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura da que está por vir”. Lembra o povo de Deus a caminho da Terra Prometida que o Pai preparou.
A liturgia de hoje mostra o tempo comum com a 1ª leitura de Jonas (3, 1-5.10) “Levanta-te e põe a caminho”; o salmo 24 (25) “Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos”; a 2ª leitura de 1Coríntios 7, 29-31 “O tempo está abreviado”, bem proclamadas por nossos leitores e salmistas e o Evangelho desse domingo é de São Marcos capítulo 1, versículos de 14 ao 20. “Segui-me e eu farei de vós pescadores de homens”. Ao finalizar a proclamação do Evangelho, padre Carlos começa sua homília.
_Hoje a liturgia da Palavra nos fala sobre o anúncio do Evangelho, o salmo que acabamos de ouvir “mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos e a vossa verdade nos oriente e nos conduza”; isso significa que toda vez que encontramos o caminho que é nos mostrado por Deus nós devemos caminhar segundo a sua verdade. No nosso mundo nós temos muitos caminhos e muitas verdades, mas nenhum desses caminhos, nenhuma dessas verdades nos conduzem a Deus. Se queremos um dia estarmos com Deus é preciso trilharmos o caminho que Ele falou e abraçarmos a verdade que Ele nos apresenta.
Padre Carlos faz uma pausa para verificar se as pessoas estão prestando atenção e continua.
_No Evangelho de João capítulo 14, versículo 6 Jesus nos diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém chega ao Pai senão por mim”, ou seja, trilhar os caminhos do Senhor, abraçar a sua humanidade nada mais é do que aceitar o Cristo, nosso Salvador, nosso Libertador. Não só aceitá-lo como anunciá-lo, uma vez que aceitamos Cristo nos tornamos seus discípulos. Muitas vezes meus irmãos e irmãs, nós podemos ter medo de anunciar o Evangelho e muitas vezes nós até não queremos anunciar o Evangelho por algum motivo, mas quando Deus nos escolhe, não adianta correr, pois uma hora Ele nos pega.
As pessoas começam a balançar a cabeça afirmando o que o padre dissera.
_Como em Jonas na 1ª leitura, ele não aceita a missão que Deus lhe pede para anunciar na cidade de Nínive, pois sabia que Deus era misericordioso e não destruiria a cidade, assim como pedira para anunciar. Mas mesmo fugindo, Deus o chama pela 2ª vez e assim Jonas o faz e os ninivitas se convertem e a cidade não é destruída. E assim acontece com a gente, muitas vezes não queremos aceitar a missão que Deus quer que façamos, mas é nosso dever abraçarmos aquilo que Deus nos pede, a vocação que Deus nos oferece. Não adianta fugir, Ele sabe onde você está. São Paulo na 2ª leitura vai deixar claro também que não podemos colocar nada na frente de Deus, que diante de Deus todas as coisas são secundárias é como se ele estivesse nos recordando aquele 1º mandamento da lei de Deus que aprendemos na catequese: “amar a Deus sobre todas as coisas”, significa colocar Deus sempre em 1º lugar na nossa vida.
Com essas palavras já era nítido que as pessoas estavam pensando no assunto. Assim o padre continuou.
_E o Evangelho nos mostra que depois que João Batista foi preso, Jesus então começou a anunciar o Evangelho, que o Reino de Deus está próximo e para isso é preciso converter-se, isso significa que a fase de João Batista já passou, porque o Senhor está no meio de nós e assim Jesus convida a outros a fazer parte, Jesus não anuncia o Evangelho sozinho, Ele caminha com outros discípulos e nos dá o nome deles, antes pescadores comuns, agora com Jesus são convidados a serem pescadores de homens, ou seja, discípulos seus; quando Jesus voltar para o Pai, eles continuem o serviço de Evangelizar.
Padre Carlos faz uma nova pausa e questiona a comunidade.
_Vocês sabem que hoje nós somos esses discípulos, Jesus pede a cada um de nós batizados a sermos pescadores de homens, missão nossa sermos missionários, aquele discípulo que não prega o Evangelho deve rever sua situação, perguntar se realmente é um cristão. No nosso mundo está cheio de pessoas que se diz ser cristão, católico, mas não fazem nada. Devemos nos questionar se estamos fugindo de Cristo, de sua missão, comece a se perguntar: será que tenho medo? Às vezes meus irmãos e irmãs, nosso egoísmo, nosso orgulho, nossa prepotência faz nós querermos ser maiores que Deus. Que possamos agir com mais misericórdia. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
_Para sempre seja louvado! - todos respondem.
O padre Carlos faz a sequência do rito, consagra a hóstia, eleva Deus, nós ministros ajudamos e distribuímos o verdadeiro corpo de Cristo, não tenho palavras para explicar esse momento, apenas saboreio essa presença real de Jesus, é uma responsabilidade enorme, você percebe em cada rosto a presença do próprio Cristo, o amor. Nesse momento eu percebo que somos todos iguais e com a esperança desse encontro pessoal com Cristo.
Ao término da celebração padre Carlos nos abençoa e assim saímos em missão e mais fortes para enfrentar a semana. O padre fica na porta da igreja cumprimentando os fiéis, com isso, Bianca e eu ajudamos a guardar a credência e organizar a sacristia.
O padre entra na sacristia e se aproxima de nós.
_Bianca e José preciso falar com vocês.
Nos dirigimos para uma sala que o padre tem ao lado da sacristia, era onde ele tomava seu café e as vezes descansava no intervalo de uma celebração para outra.
_Sim padre, no que podemos ser útil? - questionei o padre Carlos.
_Tenho uma missão para vocês dois e não vou aceitar um não como resposta.
_Mas padre, nem sabemos do que se trata – completou Bianca.
_Vocês sabem que estamos no começo do ano e que daqui a mais ou menos 3 a 4 meses teremos o sacramento do crisma de nossos jovens e da 1ª Eucaristia de nossas crianças, essa data, com certeza vocês já reservaram nas suas agendas, estou certo?
_Mais uma vez o senhor está certo – brinquei com o padre.
_Onde o senhor quer chegar com isso, padre? - curiosa, perguntou Bianca.
_Pois bem. Vamos lá! Vocês sabem que antes do início da quaresma desse ano vamos ter uma palestra sobre o amor de Jesus, vamos falar sobre a vida, sobre decisões a serem tomadas na vida e suas consequências no futuro, como viver esse amor de Deus, em como ser um cristão verdadeiro; esse tema é para alertar nossos jovens e é claro, seus pais também, para abrir seus olhos, iluminar seus caminhos, principalmente nessa fase em que eles estão entrando na vida.
_Sim padre, inclusive alguns pais, estão perguntando se é o senhor que dará essa palestra, ou outro padre, ou um palestrante, pois ainda o senhor não divulgou e eles estão curiosos, pois geralmente o senhor nos avisa quem será – argumentou Bianca.
_Pois é aí que vocês entram nessa história – completou o padre Carlos balançando a cabeça afirmativamente.
_O senhor quer que preparemos a ambientação e recebemos o padre ou o palestrante? - perguntei ao padre.
_De certa forma sim e não.
_Como assim padre? - questionou Bianca com um olhar de dúvida e já não entendendo.
_Quero sim que vocês preparem tudo, como de costume. Porém esse ano será diferente, não serei eu o palestrante, nem virá alguém de fora, quero vocês à frente, transmitindo esse amor ao próximo, esse amor de Deus. Quero que vocês sejam os palestrantes desse ano.
Confesso que fiquei sem reação não estava preparado para ouvir o que o padre acabava de dizer, nós sempre ajudamos a preparar a ambientação junto com a equipe da pastoral litúrgica e a receber um amigo do padre ou outro convidado, mas não a falar para os jovens. Então veio a dúvida e o medo.
_Mas padre, não estamos preparados, não temos material suficiente, já está em cima da hora, temos pouco tempo. Padre o senhor deveria ter nos avisado antes.
_Só estou ouvindo murmúrios, isso não dá, não tenho tempo, blá, blá, blá – brincou o padre.
_Padre é sério! É muita responsabilidade, precisamos nos preparar – assustada falou Bianca.
_Meus irmãos! - neste momento padre Carlos olhou fixamente em nossos olhos numa feição bem séria, apoiou suas mãos em nossos ombros, ele sempre fazia isso quando queria transmitir uma mensagem para nós – vocês estão mais que preparados, não pediria algo se eu soubesse que vocês não eram capazes, sei de sua espiritualidade José, sei da sua espiritualidade Bianca, conheço vocês, em minhas orações apareceram os nomes de vocês para essa missão, vocês precisam transmitir suas experiências, suas emoções, esse amor e essa é a oportunidade, ser pescadores de homens.
Fiquei sem palavras, padre Carlos conhecia tão bem a gente que as vezes me surpreendia.
_Mas como padre? O que dizer e como falar com os jovens e seus pais? Não tenho a facilidade e a unção do senhor para expressar esse amor de Deus, e se eu falhar? - completei meu pensamento.
_Vocês tem algo que talvez, agora vocês não consiga enxergar, mas vocês transmitem uma serenidade para as pessoas, uma simplicidade única de um casal, de uma família cristã, vocês mostram a pureza, o zelo, o dia-a-dia de vocês, suas atitudes no cotidiano são exemplos para os demais cristãos. Vocês têm a benção de nosso Senhor Bom Jesus, vocês têm a experiência de suas vidas, suas histórias, o caminho, a caminhada de vocês até aqui. Olhe para sua mão direita José, essa sua cicatriz é motivo de orgulho, olhe para seu coração Bianca, sua força, seu amor, sua sinceridade, olhem para dentro de vocês, percebam essa força, essa luz, não adianta se esconder.
_Entendemos padre! - disse Bianca.
_Muito bom! Então estamos combinados. É uma alegria imensa vocês terem aceitado o convite.
_Sei padre, como dizer não depois dessas palavras, desse chamado – confessei ao padre.
Mas ainda havia uma pergunta a ser feita, ele não tinha nos passado a data exata apenas estava alertando que estava próximo e nos avisaria quando.
_E quando será a palestra padre, o senhor já tem uma data? - perguntou Bianca.
_Sim claro, essa semana já pedi para as catequistas passarem a data para os jovens e seus pais, e eles já confirmaram a presença.
_Bom, então pelo menos ainda temos um mês para nos prepararmos – sorri aliviado.
_Na verdade marquei para daqui 7 dias.
_Sete dias! - falamos juntos Bianca e eu.
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CAP. 2.
FONTE DE AMOR
"15
Se me amais, observareis os meus mandamentos.
16 E
eu pedirei ao Pai, e ele vos dará um outro Defensor, que ficará para sempre
convosco: 17 o Espírito da Verdade, que o mundo não é capaz de receber, porque
não o vê, nem o conhece.
Vós o
conheceis, porque ele permanece junto de vós e está em vós. 18 Não vos deixarei
órfãos: eu voltarei a vós.
19
Ainda um pouco de tempo e o mundo não mais me verá; mas vós me vereis, porque
eu vivo, e vós vivereis.
20
Naquele dia sabereis que eu estou no meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 Quem acolhe e observa os meus mandamentos,
esse me ama.
Ora,
quem me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a
ele". (João 14, 15-21)
Era mais uma manhã quente daquele
verão; para ser mais preciso uma terça-feira de carnaval, as ruas estavam
tomadas por alguns foliões bêbados e perdidos pelas ruas, seus olhares eram de
quem não sabiam o que estava acontecendo naquele momento, vagavam andando em
zig-zag pelas calçadas, alguns pelos cantos encostados nos muros vomitavam tudo
o que conseguiram consumir durante toda a noite e mesmo assim só queriam curtir
o dia com uma latinha gelada alcoólica ou sabe lá o que mais.
Uma geração perdida pelos prazeres da vida e não se importando com o amanhã ou com o suicídio que estavam fazendo com seus corpos que possivelmente iriam cobrá-los mais tarde.
Chegamos na Igreja e o padre Carlos nos recebeu na porta, não estávamos escalados naquele dia como ministro da Eucaristia, então, junto com meus pais nos sentamos no 2º banco próximo ao altar a espera do início da celebração, Clara como de costume quis ficar no colo de sua avó, já Francisco ficou sentado ao meu lado.
A liturgia do dia faz refletir sobre a sagrada face de Jesus, um momento de pura energia e esperança.
Após a proclamação do Evangelho de São João, capítulo 14, versículos do 15 ao 21, na homilia, o padre Carlos nos explica o sentido dessa celebração.
_Queridos irmãos e irmãs nós estamos hoje celebrando a festa da Sagrada Face, que a igreja vem celebrando há muito tempo, geralmente na terça-feira de carnaval, nos preparando para o tempo da quaresma que entraremos amanhã na quarta-feira de cinzas, e nós sabemos que o tempo da quaresma é um tempo de reflexão, um tempo em que nós vamos caminhando para celebrar a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus Cristo. E o Evangelho que acabamos de proclamar está dentro de um trecho do Evangelho de São João chamado de 'Evangelho de despedida' que vai do capítulo 13 ao capítulo 17 e este trecho está no capítulo 14.
Padre Carlos faz uma pausa, olha fixamente para assembleia e continua a sua reflexão.
_Jesus está na última ceia com seus discípulos e já sabe tudo o que vai acontecer com Ele, aquele que deveria traí-lo já saiu e Jesus está dando algumas recomendações para os seus discípulos, e é interessante que as recomendações que Ele dá vem depois de uma palavra de esperança, Jesus promete aos seus discípulos que não os deixará sós, Ele vai enviar o seu Espírito, o Espírito da verdade que deverá revelar todas as coisas a eles e depois Ele diz: “aquele que observa os meus mandamentos este é meu amigo Eu estou nele e ele estará em Mim assim como Eu estou no Pai e o Pai está em Mim”. Isto nos mostra irmãos e irmãs que aquele que se mantém na comunhão com Deus vai sempre beber desta fonte de amor que é o próprio Deus e quando nós celebramos a festa da Sagrada Face nós estamos celebrando este amor de Deus que nos toca, que vem ao nosso encontro.
Algumas pessoas começam a se abanar com os folhetos por conta do calor intenso, padre Carlos pega sua toalhinha e passa em seu rosto para secar o suor, os ventiladores ligados não dão conta de refrescar o ambiente, mas mesmo assim ele continua a reflexão.
_A Sagrada Face que hoje nós veneramos é a face ensanguentada de Jesus; é aquela face que ficou marcada nos panos, é aquela face dolorosa, aquela face marcada pelo sofrimento da dor; mas ao mesmo tempo nós celebramos o rosto divino do Cristo que carrega consigo toda esperança que nos é dada. Muitas vezes nós podemos pensar que estamos celebrando alguém que foi derrotado, quando na verdade a nossa celebração hoje vem significar que aquele que morreu na cruz, aquele que sofreu, vive, vive eternamente, é por isso que nós estamos aqui reunidos celebrando esta santa missa.
Mais uma passada da toalhinha no rosto e prossegue.
_A Sagrada Face de Jesus torna-se para nós um símbolo do amor de Deus por cada um de nós; muitas vezes nós não entendemos o porquê de nós beijarmos o retrato da Sagrada Face no final da missa, mas para nós, simbolicamente, dar este beijo na Sagrada Face estamos antecipando de certa forma a celebração da adoração da Santa cruz na sexta-feira Santa, onde nós beijamos também a cruz de Cristo. E muitas vezes perguntamos: por que beijá-la? Não seria um gesto de idolatria? Não seria um gesto errado?
Padre Carlos espera uma reação das pessoas que balançando a cabeça negativamente concordam com que ele está dizendo.
_Nós não estamos beijando um quadro simplesmente, na igreja católica nós nos utilizamos dos símbolos para mostrar a Deus o quanto nós o amamos e o quanto nós somos gratos; então, quando nós estamos beijando a Sagrada Face ou estamos beijando a cruz na sexta-feira Santa, não é um pedaço de vidro e não é um pedaço de madeira que nós estamos beijando; nós estamos beijando simbolicamente o amor que Deus tem para conosco, um amor que foi tão grande que foi capaz de se doar totalmente por nós, um amor que foi capaz de assumir o sofrimento simplesmente porque nos ama.
Padre Carlos consegue prender a atenção das pessoas que nem percebem o tempo passar.
_Na liturgia da missa existe outro momento em que se utiliza o beijo, quem beija o altar quando se inicia a celebração é o padre, e quem beija o altar quando se encerra a celebração é o padre. E o padre na sagrada liturgia representa o Cristo e também o povo, no início e no fim da celebração o padre está representando a igreja de Jesus Cristo, o altar representa o próprio Cristo, quando o padre beija o altar, é a igreja que está beijando o Cristo, a igreja, sua esposa dá a saudação ao seu esposo, e agora sim nós podemos celebrar, porque esposa e esposo estão unidos, se nós olharmos simplesmente com os olhos carnais, sem nenhuma fé, nós vamos simplesmente dizer que o padre está beijando o altar e pronto acabou. Mas existe um sentido espiritual por trás disso, nós que somos igreja estamos saudando o nosso esposo, Cristo, com o beijo Santo e só depois é que nós podemos começar a celebrar a sagrada Eucaristia, o padre não pode iniciar a Sagrada Eucaristia e a celebração sem antes beijar o altar. E o padre não pode ir embora sem antes beijar o altar, porque o Cristo está representado no altar, o Cristo, Ele mesmo é o sacrifício e o Cristo é o sacerdote por excelência e todos nós reunidos enquanto igreja saudamos e também iniciamos o Cristo como nosso esposo; então perceba que o beijo que nós damos, nós não damos em um gesto de idolatria, nós damos este beijo com sentido de respeito, de respeito por tudo o que Ele fez e faz por cada um de nós. No final da missa faremos este gesto do beijo da Sagrada Face, e que neste momento nós possamos recordar que nós realmente estamos beijando o amor de Deus, a misericórdia de Deus, tudo o que Ele fez por cada um de nós, e que a gente possa começar a se preparar para a grande celebração do tríduo pascal, onde nós veremos todas estas coisas com muito mais intensidade. Peçamos ao Senhor que vá trabalhando em nossos corações, que a gente vá entrando dentro dessa espiritualidade quaresmal através da celebração de hoje. Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo!
_Para sempre seja louvado!
Após o término da missa os paroquianos saem renovados, cheios de alegria em seus rostos, padre Carlos consegue transmitir o amor de Deus.
A espera da semana Santa faz isso com os cristãos católicos, é claro que primeiro passaríamos pela quaresma, um momento de reflexão, de respeito, de cuidados, era bom termos esses pensamentos.
Bianca junto com as crianças e meus pais iam voltar para casa, eu, esperaria o padre Carlos para tratarmos de alguns assuntos referentes a quaresma daquele ano, porém havia deixado minha bíblia com as anotações na nossa loja, precisava pegar primeiro essas anotações e aí sim conversar com o padre sobre os preparativos para alguns dias específicos da quaresma, pois praticamente estava tudo organizado.
_Bianca, vou precisar passar na loja, ontem esqueci de pegar a minha bíblia com as anotações para a quaresma, é o tempo certo também para o padre Carlos finalizar suas coisas na igreja, já combinei com ele para me esperar e depois nós vamos juntos para casa.
_Esqueceu de novo a bíblia na loja? Você não tem jeito - disse Bianca brincando comigo e me dando um beijo de despedida – então, tome cuidado, espero vocês, vamos Francisco o papai vai ter que ficar mais um pouco.
_ Tchau papai – disse Francisco abraçando e me beijando.
_Tome cuidado, não fique muito exposto aqui, feche as portas, você sabe que hoje tem algumas pessoas alteradas andando pelas ruas, é carnaval meu filho, você não quer que eu fique com você? - alertou meu pai.
_Não se preocupe pai, pode voltar junto com a Bianca, a Clara está dormindo no colo da mãe, eu vou ser rápido, prometo tomar cuidado.
Me despedi de meu pai e de minha mãe e dei um beijo na Clara e me dirigi para a loja.
Bianca e eu montamos uma loja de artigos religiosos católicos assim que noivamos, era um local que estava abandonado há algum tempo e conseguimos comprar este espaço com nossas economias. Montamos um ambiente aconchegante para receber as pessoas, para se sentirem em paz ao entrar na loja, há um espaço para leitura, para tomar um café, para encontrar com os amigos e claro há também os produtos religiosos católicos para melhor realizar as orações e espiritualidades.
A nossa loja está fluindo bem financeiramente com as graças de Deus, tudo estava dando certo. No início, quando inauguramos ficávamos boa parte do tempo trabalhando Bianca e eu sozinhos, mas assim que Bianca engravidou pela primeira vez, tivemos que contratar alguns funcionários para nos auxiliar na loja, dessa forma Bianca tinha mais tempo livre para cuidar da casa e ficar com o Francisco, sempre disposta e participativa nunca me abandonou no negócio, ajudava em outros afazeres também de outra forma.
Após 2 anos engravidamos pela segunda vez, e conversamos a respeito do que fazer e decidimos que ela se dedicaria mais intensamente com as crianças e eu cuidaria de outros assuntos da loja sem deixar minhas obrigações para ajudar com as crianças e com a casa.
Hoje como era feriado a loja estava fechada, entrei e fui direto ao balcão onde havia deixado a bíblia, sempre carrego ela comigo na minha mochila, ganhara de minha mãe quando fiz o sacramento da confirmação do crisma e não a larguei mais, estava com várias anotações de exercícios, textos grifados, algumas reflexões minhas desses exercícios, é claro que as vezes por esquecimento deixava no quarto, ou na sala de casa ou até mesmo na loja e me desesperava para encontrar, pois essas informações para mim eram preciosas, mas lá estava a bíblia no balcão onde havia deixando ontem antes de fechar a loja. Ao pegar a bíblia folhei-a e lá achei minhas anotações que precisava, coloquei a mão no bolso para pegar o celular e só encontrei o meu terço, lembrei que havia deixado meu celular com meu filho Francisco.
Não sou de ficar usando o celular, confesso, Bianca sempre me alerta para a importância de ter o celular em mãos: “você pode precisar numa emergência” ou “se eu precisar falar com você? ”, mas ainda não era um hábito meu, não conseguia me acostumar e naquele momento também não me fazia falta, pois sempre estávamos juntos.
Senti a necessidade de ligar para Bianca para avisá-la que estava sem o celular, sempre nos preocupamos um com o outro, então peguei o telefone da loja e liguei para avisá-la, provavelmente já estava em casa.
_Alô! - uma voz de criança me atendeu.
_Oi filho é o pai, a mamãe está do seu lado?
_Está sim, mãeeeee – gritou Francisco.
_Ei não precisa gritar sua irmã deve estar dormindo – falei para ele.
_Desculpa! Pai posso jogar vídeo-game? É para ir treinando um pouco, porque, quando o senhor chegar, o senhor me ajuda a passar daquela fase e depois jogamos futebol juntos. Posso? Posso?
_Não sei se agora é uma hora boa para você jogar, primeiro você precisa ajudar sua mãe, e então se sua mãe permitir você joga, entendeu?
_Tá bom pai – senti uma voz desanimada do outro lado – a mamãe também já falou que agora não, vou passar pra ela. Tchau!
_Tchau filho, cuida da sua mãe.
_Oi José, o Francisco está todo agitado e eu falei para ele te esperar para ligar o videogame, porque agora não dá.
_Percebi, mas depois eu converso com ele e a gente brinca juntos. Então Bianca, deixei o meu celular com o Francisco, estou te ligando só para te avisar, mas estou indo agora para a igreja falar com o padre, e então já vamos para casa.
Nem terminei de falar com Bianca e fui interrompido pelo volume alto da TV: “A criança que estava na casa quando tudo começou, foi transferida ontem para o hospital local, o acidente que aconteceu há 2 dias, em que uma casa pegou fogo...”.
_DIMINUI O VOLUME DESSA TV! Francisco! - falou irritada Bianca.
_O que está acontecendo aí, Bianca?
_O Francisco que ligou a TV num som alto. E eu sei que você deixou o celular com ele, não adianta falar com você, né? E o padre já ligou no seu celular, ele já está te esperando.
_Ok, já estou indo para lá, fique com Deus. Te amo!
_Amém! Você também fique com Deus. Também te amo.
_Beijos.
Tranquei a porta da loja e fui em direção a igreja, atravessei a rua e foi então que algo me chamou a atenção, vindo do centro da praça, próximo a fonte de água, uma luz forte vinha daquela direção, com um brilho curioso que me despertou a atenção, não havia ninguém ao redor naquele momento, as ruas estavam vazias, ou pensei que estava, mas tinha apenas essa luz, era linda, era especial, era como se estivesse me chamando para aproximar dela.
Me distrai completamente e fui tomado por uma força à ir em direção a essa luz, ela ficava mais forte a cada passo que dava, chegando próximo ao centro da praça onde estava a fonte de água, atrás de uma árvore chamada quaresmeira, me deparei com uma senhora sentada no banco, a luz que me chamou atenção vinha daquela direção, a sensação é de que eu fora engolido por aquela luz, meu coração começou a bater mais forte, era uma sensação diferente do que já tinha passado até aquele momento, era como se aquela senhora estivesse me esperando, sabendo que eu iria até lá, que eu me encaminharia até ela.
E ao me aproximar ela olhou em meus olhos sorrindo. Os seus olhos eram da cor de mel, tinham um brilho único, pacificador, seu perfume me lembrava as manhãs de primavera, aparentava ter uns 50 anos, usava uma calça jeans e uma camiseta branca e sandália azul-celeste, tinha cabelos longos e morenos, suas mãos seguravam um terço na cor prata, sua serenidade me encantou, só de estar ao seu lado naquele momento sem dizer uma palavra me sentia em paz. Parecia que a conhecia há tempos, mas, ao mesmo tempo, nunca havia visto aquela senhora na igreja.
_Bom dia José! Tudo bem? - disse aquela senhora sorrindo.
Não sei como ela sabia meu nome, era bem estranho, mas algumas pessoas me conheciam pelo fato de eu fazer parte da comunidade.
_Bom dia, tudo bem e a senhora, como vai? - ela balançou a cabeça como dizendo que estava tudo bem. Desculpe-me, mas não lembro da senhora, a senhora me conhece? - perguntei pois não havia reconhecido-a naquele momento.
_Sim, há tempos venho te observando e a sua família também, estava esperando o momento certo de falar com você, as pessoas da comunidade me disseram da grande admiração que sentem por você e sua esposa, o trabalho que vocês exercem aqui, o amor que vocês transmitem, a paciência, o servir, toda a dedicação, o zelo, suas orações, fico feliz em ter essa oportunidade e então achei que era hora de falar contigo se você permitir é claro.
Sua voz era tão serena, transmitia paz a cada palavra, nunca havia conversado com alguém tão simples no olhar, instigante, poderia dizer tão pura, cheia de vida e graça.
_Claro que sim, mas no que posso ser útil nesse momento?
Ela fez um sinal para sentar ao seu lado, coloquei minha bíblia sobre o banco, sentei e então ela começou a falar.
_Me diga José, percebi que você está com a bíblia, como é esse amor que você sente por Deus, essa sua fé?
_Desde sempre tenho essa fé e esse amor por Deus, meus pais sempre me mostraram esse amor de Deus, meus avós também foram exemplos de fé, aprendi tudo com eles, venho de uma família de muita fé e temente a Deus. Cresci vendo a dedicação de minha nonna na igreja, em suas orações diárias, sua fé, muitas pessoas pediam para ela rezar intercedendo por elas, e ela fazia com muito gosto. Essa adoração por Deus é como se não existisse mais nada em meu caminho, sinto que estou aqui para adorar e servir a Deus, me preparar para o encontro com Jesus, afinal sei que aqui é uma passagem, você me entende?
_Sim! Te entendo perfeitamente.
_As vezes sou falho, é verdade, sou pecador, mas em minhas atitudes e nas minhas orações tento passar isso para meus filhos e para a comunidade, esse jeito de ser, você só vai ser um verdadeiro cristão na medida em que aceitar esse amor de Cristo, em vivenciar, mas então, espiritualmente falando você começa a perceber que há muita coisa errada na vida, tanta desigualdade, violência, injustiça, muitos falam de amor, falam de Deus, poucos vivenciam ou falam com Deus, eu sempre tento, junto com a minha família, ter esse encontro pessoal com Jesus, sabe, saborear esses momentos, como estamos fazendo aqui, sentir o que Ele sentiu é tão especial, tão bonito, tão rico, às vezes me dá uma tristeza em saber que muitos não dão valor a vida, mas na maioria das orações me alegro por poder compreender o que Ele me pede e sigo em frente, se soubéssemos o valor que realmente significa essa doação de Deus, de Jesus Cristo o mundo seria um lugar melhor para vivermos, temos a alegria de ter Jesus Eucarístico em nós, isso me deixa mais forte, afinal somos um sacrário vivo!
_Você está completamente certo sobre isso.
_O próprio Cristo no vinho e no pão, o amor, não era para ter medo de nada, mas como te falei e agora incluindo a todos nós, todos somos pecadores, eu sou pecador e é por isso que sempre peço a misericórdia de Deus e a graça de Nossa Senhora, nossa mãe Maria para me ajudar a seguir no caminho reto da fé e do amor. Sei que muitas pessoas ainda não entendem esse significado, mas só pela fé é que podemos encontrar o caminho, encontrar a paz, é diferente enfrentar a vida sem crer em Jesus, de estar com alguma doença sem esse Deus, é mais doloroso, pois é Ele que conforta nossos corações, dá força e luz; muitos tentam achar alguma explicação para tudo, quando não percebem que é a falta desse amor verdadeiro para com seu próximo que as afastam de Deus. Afinal Deus eleva os humildes e derruba do trono os poderosos. Eu penso dessa maneira, quanto mais uma pessoa quer crescer diante dos homens, mais ela vai diminuindo diante de Deus, e quanto mais eu sirvo a Deus, mais eu cresço diante de Deus. Mas é claro que cabe a cada um de nós refletirmos e saber qual é a importância que nós damos para Deus. Desculpe, acho que falei demais, minha esposa costuma falar que eu me empolgo quando falo desse amor de Deus, sabe como que é, mas não consigo parar.
Percebi que algumas lágrimas saíram de seus olhos, mas seu sorriso se manteve, ela era tão serena que também em mim começou a sair algumas lágrimas.
_Suas palavras são verdadeiras e fiéis, são intensas, não esperava de você outra resposta, meu filho. Muitas pessoas sofrem precisando de ajuda, mas não querem mudar suas atitudes nem suas crenças, ficam presas ao passado, não aceitam Deus em suas vidas, se revoltam, acham que tudo ao seu redor está errado quando é a si próprio que deveria mudar, e ainda tem o costume de “culpar” a Deus por tudo de ruim que lhe acontece e então vem as tentações do mundo, o egoísmo, a vaidade, a soberba, me diga, o que você faria se visse um filho, de outra pessoa talvez, precisando de ajuda, pedindo a sua ajuda, você conseguiria ajudar ou se negaria?
_Na medida do possível eu ajudaria, dentro das minhas limitações, é claro, e da permissão de seus pais, dependendo do caso. Você não pode e nem consegue mudar os pensamentos de uma pessoa, o que posso fazer e tento é mostrar a experiência da minha vida religiosa, eu sei que na vida temos dor, que há doenças, mas tudo fica mais suave se estamos com Deus, pois Ele nunca nos abandona, porque sem Deus a dor é insuportável, você fica distante, mas eu sei também que algumas pessoas não permitem nos aproximarmos para uma palavra ou um consolo, tenho que respeitar o livre arbítrio e rezar por essa pessoa e para a sua família, afinal Deus nos deu o livre arbítrio.
_Mas a dor é mais intensa quando é uma criança implorando por amor, principalmente aquela que não teve a oportunidade do conhecimento, de uma família.
_Sem dúvida, às vezes os pais não enxergam o mal que estão fazendo para seus próprios filhos, trabalhamos aqui com famílias envolvidas com alcoolismo, drogas, e outras coisas, é triste você ver um pai de família perdido na vida, a família fica sem nenhuma estrutura, sem rumo, sem fé, as crianças são as mais afetadas, em alguns casos já nascem sendo desprezadas pela mãe ou pelo pai, são jogadas como se fossem um nada, é humilhante as coisas que presenciamos, mas é a realidade de hoje, de uma família sem os alicerces, sem condições de vida, sem amor, sem Deus.
_José e se alguém lhe fizesse uma proposta para você abandonar sua família, largar tudo o que tem em troca de muito dinheiro, riquezas e uma vida de luxo, você teria que deixar uma carta para sua família dizendo que os abandonaria, você faria isso?
_Nunca, de forma alguma, impossível passar isso pela minha cabeça, minha família é o que tenho de mais sagrado e precioso nessa vida, é uma benção de Deus que dinheiro algum no mundo pode comprar, nem todas as riquezas nesta terra, ouro ou pedras preciosas fariam com que eu abandonasse a minha família.
_Era o que esperava ouvir de você José, suas respostas, seu jeito, seu amor, tenho a certeza que você é a pessoa certa, meu filho – disse-me com um sorriso em seu rosto.
_Me desculpe pelo meu esquecimento, mas estamos conversando há tempos e nem sei o seu nome, a conversa está boa, mas enfim como a senhora se chama mesmo?
Antes que ela pudesse me responder ouvi um barulho forte, estridente, me levantei assustado e olhei para trás, era um bloco de carnaval de rua que estava se aproximando com algumas pessoas fantasiadas vindo em direção à praça pulando e gritando eufóricas.
Mas novamente fui tomado por uma luz forte, agora emergindo de dentro da igreja, mais precisamente a luz vinha do altar, do sacrário, essa luz me tirou toda a atenção do que estava acontecendo ao meu redor, era como se eu estivesse saindo de meu corpo, era uma luz linda e misteriosa, tudo começou a fazer sentido naquele momento, seu brilho iluminou meu coração, fortaleceu minha alma, era uma sensação de que eu estava recebendo uma benção das próprias mãos de meu Senhor, foi uma das melhores experiências que tive na minha vida.
Naquele momento permanecia apenas o silêncio, não se ouvia mais nada, nada me perturbava, não sei dizer se essa sensação foi por alguns segundos, ou por alguns minutos, só sei que voltei para meu corpo quando ouvi uma voz me chamando.
_José! José! - disse-me aquela senhora – chegou a hora!
Me virei para ela e ao vê-la, seus olhos estavam fixos em mim, um olhar sereno, porém, como um olhar de mãe que se preocupa com seu filho, ela estendeu seus braços sobre mim e segurou minhas mãos, pude sentir um calor saindo de suas mãos, uma energia vinda dela sem igual, uma verdadeira fé, apenas amor. Suas mãos eram macias e suaves, senti uma leveza de espírito e então ela completou.
_José, talvez agora você não entenda o que vai lhe acontecer, mas eu te peço que confie, tenha fé, nunca desista e sempre creia, peço desculpas com o que vai te acontecer, mas depois você entenderá – ela começou a passar suas mãos em meu rosto enxugando minhas lágrimas – mas entenda é necessário. Não tenhas medo pois estarei sempre ao teu lado te guiando e te protegendo, você e a sua família, mas as escolhas que você fizer agora e suas atitudes transformarão o seu futuro.
Então, neste momento ela segurou minhas mãos mais forte ainda por alguns segundos, eu fiquei sem reação por aquelas palavras ditas, a marchinha de carnaval estava mais próxima, pois senti a presença de pessoas se aproximando, os lábios daquela senhora se moveram mais uma vez para me dizer mais umas palavras de conforto.
_Deus te abençoe e te proteja, meu filho!
E após essas palavras, senti uma força brutal em minha cabeça, uma força desigual, violenta, fui atingido por trás na minha cabeça, pude ouvir o barulho de uma madeira sendo quebrada em mim, minhas mãos se soltaram daquela senhora, a sensação era de que ela ficava cada vez mais distante enquanto meu corpo caia no chão e meus olhos começavam a se fechar, a luz que antes brilhava estava se apagando, pensei em Bianca e em meus filhos enquanto meu corpo se desfalecia no chão, pensei em meus pais, em meu irmão e sua família, talvez não sabia se teria outra oportunidade de estar com eles.
E foi quando finalmente senti o impacto de meu corpo no chão e um zumbido ensurdecedor começou em meus ouvidos, a luz se apagou totalmente, não via mais nada ao meu redor, apenas uma escuridão e um silêncio se iniciou.
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